terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Morreu o rapaz da rua de baixo...

A regra social diz o que? Devemos nos sentir mal pelo falecimento pessoa, devemos ficar tristes pois é uma despedida, nunca mais a veremos. Bem verdade que nossas emoções serão tocadas, que até choraremos...   isso é o natural. Mas é a época que vemos a hipocrisia ir ao extremo também. Começam a aparecer pessoas que mal falavam com aquele que morreu, que não o convidavam para sair, nem realmente se importavam se ele ia; que não faziam a mínima questão de telefonar, mesmo que muito de vez em quando, de lembrar desse alguém que parte, quando era vivo, mas depois que a pessoa falece, toda essa atenção pra ela. É muito complicado... é aí que vemos esses "amigos" chorarem, contarem histórias, se arrependerem disso e daquilo que fizeram contra o finado, e tem gente que até inventa que teve o que não teve, vejam só. E vemos as pessoas se olhando como mais humanas - uma doce ilusão criada pelo horror que a alma humana tem da morte - mais sensíveis, mais participativas do "comboio social", tudo surje em prol do finado, para prestar tributo a alguém querido que se foi. Mas em vida, ninguém prestava tributo a ele, e essa multidão de gente se aproveitando, pelas beiradinhas, do falecimento, pra conseguir uma pontinha de atenção, segue erguendo suas velas falsas, contando suas histórias que nunca antes foram importantes, agindo como se o mundo fosse acabar porque alguém falece... e no dia seguinte, elas não farão luto, exceto em suas redes sociais; e na semana seguinte, se houver uma festa, elas irão! Pose, e mais pose. Uma falta de respeito total com as pessoas que realmente amavam aquele que falece e que estiveram lá, presentes do lado dele, mesmo que distantes, mas que sempre tinham uma gota de sangue a ele.
No fundo, o que essas pessoas aleatórias que só servem pra rechear velório choram é essa sensação de termitude, de finitude que a morte de alguém dá, ainda mais alguém da nossa geração, mostrando que não somos imortais e tendo uma prova ciêntifica disso, jogada nas nossas caras! E isso faz-nos temer o que não vivemos ainda, ter medo de como não queríamos ser aquele que parte e de tudo que perderíamos, se nos acontecesse tal fatalidade. O medo de que tudo termina, a certeza posta à mesa e nós de frente para nós mesmos, enfrentando um fato que ignoramos quase o tempo todo: que tudo que nasce, morre; que essa é a regra natural da vida. É o tipo de pessoa que não chora de saudade, mas remoe de desgosto; que não presta tributo em vida, mas veste a máscara da hipocrisia na morte, tentando provar que se importa com algo a mais que si mesmo. É o tributo ao arrependimento, não à transformação do corpo em algo maior, uma elevação de consciência, e mesmo para os ateus, o completar do ciclo.
Por isso os velórios são tristes, e deviam ser saudosos; por isso, pessoas que morrem só fazem falta no momento que se vão, e logo são levadas pela areia do tempo. Só quem compreende realmente seu próprio medo da morte pode entrar num velório e olhar o morto de frente, e olhar a situação de frente, e ser adequado. E se colocar em seu lugar, principalmente. Porque, depois que a pessoa morre, é tarde demais para amor ou desculpas... não adianta mais.

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